Voltamos a escrever sobre este tema, pois nos tempos atuais, frente aos aumentos de custos, parece que o setor de Saúde necessita um “retrofit” e embora estejamos muito empolgados com as novas tecnologias IA, IoT, 5G, telemedicina e demais, nós acreditamos que existem muitas coisas a se fazer com soluções disruptivas, embora menos “tecnológicas”.
Como mencionado no livro “O dilema do gestor” de minha autoria, se o desperdício corrente em hospitais é de 30%, reduzindo 1/3 terá 10% mais de economia, ou seja, quase seguramente, dobrará seus resultados financeiros.
A ferramenta especifica para reduzir o desperdício é o Lean Healthcare, já utilizado em algumas instituições no Brasil e com muitos casos de sucesso nos EUA. Lean que significa “enxuto” é uma cultura e uma visão de dois processos e não apenas um conjunto extenso de ferramentas.
O pensamento Lean, que nasceu com o Sistema Toyota de Manufatura e hoje se aplica a todos os tipos de atividades, é poder visualizar o que “não agrega Valor ao cliente final” para ser prontamente corrigido. Esse cliente final pode ser um paciente ou um processo ao qual tenhamos que entregar valor.
Muitas das ferramentas da Qualidade: PDCA, Ishikawa, DMAIC, Pareto, 5W2H, HFMEA etc., são as mesmas em Lean Healthcare e em Segurança do Paciente e os objetivos são complementários. Por isso, criamos em nossas empresas, o núcleo de LQS ou seja: Lean + Qualidade + Segurança, concentrando atividades e eliminando redundâncias e reuniões desnecessárias.
Como em outras situações, caso não desenvolvamos primeiro a cultura, a mudança estratégica não será sustentável no tempo, e voltaremos atrás. Infelizmente isso acontece muito frequentemente.
Então, implantar a cultura (Lean) com total apoio dos níveis superiores da organização é absolutamente necessário. Como os resultados não chegarão imediatamente, se os líderes Lean tiverem que mostrar resultados mensais, a transformação Lean não acontecerá.
As ferramentas Lean, começando pelas mais conhecidas:
- Kaizen, ou melhoramento contínuo, através de seguir cada problema e ir profundo no estudo das causas primeiras.
- Just in time, ou seja, eliminação ou forte redução de estoques. Sincronicidade entre necessidades e disponibilidade de recursos ou produtos.
- Genchi Genbutsu, significa ver os problemas por você mesmo, no lugar dos fatos, com prioridade a atuar por meio de relatórios de outros.
- Jidoka, a qualidade se faz, em lugar de controlar depois. Cada um faz e controla o que terminou de executar.
- Kanban, trabalhar com lotes de produtos que se movimentam por cartões que iniciam o pedido de um lote de reposição.
- Poka Yoke, sistemas para travar uma ação, evitando um erro ou induzindo a proceder de determinada maneira.
- 5S manter o lugar de trabalho organizado e ajeitado, para facilitar a operação e evitar erros e desperdícios.
- Gestão Agile, ferramentas Scrum e Sprint. Já amplamente utilizadas para desenvolver projetos de qualquer espécie.
- Team work, o time sempre é mais forte que o indivíduo.
- 4P é o pensamento científico da Toyota: Philosophy: pensamento de longo prazo; Process: melhorar os fluxos até chegar ao cliente; People: todo resultado envolve as pessoas e o Lean enfatiza no respeito, crescimento e desafios de cada indivíduo; Problem Solving: pensamento científico orientado a um futuro desejado. Maiores informações em “The Toyota Way” de Jeffrey K. Liker.
O estudo e otimização dos fluxos dos processos cobra um valor predominante na filosofia Lean, assim como, a redução de estoques dentro desses fluxos.
Finalmente, queremos salientar que a redução de estoques, envolve a recuperação de capital de trabalho, para outros fins mais produtivos dentro da organização.
LQS é o caminho, junto com automação dos processos, para melhorar a situação de todos os stakeholders dentro do sistema de Saúde.
Recomendo a leitura do livro “On the Mend” de John Toussaint et al, relacionado com Lean Healthcare, disponível em inglês nas plataformas digitais.
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