Os Eventos Adversos (EA) causados por medicamentos são os que apresentam o maior risco individual de danos aos pacientes em hospitais.

A cadeia de medicamentos envolve diversos setores do hospital:

  • Padronização
  • Recebimento
  • Distribuição
  • Unitarização
  • Prescrição
  • Farmacologia Clínica
  • Administração dos medicamentos
  • Devolução dos medicamentos.

Em todos esses passos, é essencial a qualidade e a segurança.

De acordo com o IHI – Institute for Healthcare Improvement, pesquisadores de saúde pública já sabem que apenas 10% a 20% dos erros médicos nos hospitais são relatados e desses erros relatados, 90% a 95% não causam danos aos pacientes.

 

HISTÓRIA

Na busca por mudanças em diminuir os erros no ambiente hospitalar, em 2000 o IHI formou um grupo de Sistema de Medicação, formado por médicos, farmacêuticos, enfermeiras e estatísticos que teve como objetivo projetar um Sistema mais seguro. No final de 2003, esse grupo desenvolveu a primeira ferramenta para detectar um número maior de EAs.

 

O QUE É GLOBAL TRIGGER TOOL (GTT)?

Essa ferramenta utiliza uma revisão de prontuários de pacientes aleatórios e, através de gatilhos, permite identificar possíveis EAs aos pacientes.

Essa técnica aumenta aproximadamente 50 vezes mais a localização de EAs do que metodologias tradicionais de auditorias e relatórios voluntários. Também avalia o nível do dano causado pelo EA e possibilita focar esforços de melhoria contínua.

A GTT auxilia medir prejuízos relacionados a hospitalização dos pacientes. Através de um software ela facilita a identificação com precisão dos EAs, além de medir a taxa de EA ao longo do tempo. Essa ferramenta pode ser conectada ao prontuário eletrônico permitindo de forma ativa a identificação de EAs.

Os EAs ocorrem em diferentes situações do dia a dia dos hospitais:

  • EAs causados por medicamentos
  • EAs em cuidados da enfermagem
  • EAs em ambiente cirúrgico
  • EAs em UTI
  • EAs causados na emergência.

Os gatilhos permitem focar em um tipo de dano e trabalhar melhorias específicas para esse tema, além de acompanhar e saber se as alterações feitas para evitar erros são eficazes.

Isso permite revisões mais rápidas dos registros hospitalares e, através de um painel, possibilita monitorar e rastrear danos em algum tópico ou área específica no hospital. Por exemplo, quando o paciente sofreu um AVC, após a administração de um anticoagulante. Além de gerar custos e retrabalhos, o paciente foi prejudicado. Mesmo diferentes tipos de danos colocam em risco a segurança do paciente.

 

COMO USAR A FERRAMENTA GTT

O artigo Adverse drug event trigger tool: A practical methodology for measuring medication related harm, disponibilizado pelo IHI, apresenta como a ferramenta foi testada em quatro hospitais, com especialidades diferentes, nos Estados Unidos. Seu objetivo foi avaliar a viabilidade de treinar colaboradores para seu uso.

Alguns exemplos de gatilhos relacionados aos medicamentos:

  • Pedidos de certos medicamentos e de antídotos
  • Valores anormais de exames laboratoriais
  • Ordens de paradas abruptas
  • Altos níveis séricos de drogas
  • Leucopenia
  • Uso de agentes antidiarreicos
  • Retorno ao hospital após 30 dias.

Situações assim identificadas eram enviadas ao farmacêutico, pois necessitavam de maior atenção, e todos os prontuários eram revisados para confirmar ou não os EAs.

Diante desse treinamento, cada hospital estabeleceu sua equipe para revisão dos prontuários e foram necessários poucos colaboradores para realizar essa triagem. O método é eletrônico, o que agiliza e permite mais segurança à ferramenta.

Os treinamentos da equipe devem ser muito bem focados e eficientes, afinal através dessa revisão as tendências e causas que determinaram as variações de danos nas organizações são pontuadas.

Mais informações sobre o software da ferramenta GTT no site: www.ihi.org

 

Conclusão

A ferramenta GTT através de gatilhos consegue identificar casos suspeitos e gera gráficos para a liderança administrativa e clínica, analisarem o que possibilita colocar em prática ações que diminuam os riscos de EAs e permitam a implantação de monitoramentos mais efetivos aos processos hospitalares.

Mesmo que o hospital que você trabalhe não utilize a ferramenta GTT, a revisão de prontuários merece atenção, pois possibilita melhorias de qualidade baseada em evidências.

Um exemplo de EA comum é o horário da administração dos medicamentos ou omissão de doses. Mesmo que na maioria das vezes isso não cause EAs com danos, eles merecem atenção. Afinal, em algum momento, essa falta de precisão será responsável por EA com dano grave. Por exemplo, no caso de um paciente com embolia pulmonar que ficou sem uma dose do anticoagulante e teve uma parada respiratória indo a óbito.

Os EAs relacionados ao horário da administração de medicamentos envolvem diversas situações, entre elas a falta de profissional de enfermagem no setor, o que proporciona um número excessivo de pacientes por funcionário. Isso limita e prejudica a qualidade da assistência.

A partir da identificação dessas falhas, as tomadas de decisões baseadas em evidências possibilitarão gerar melhorias que agreguem valor e mais segurança nos processos.

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Daniela Faria – Farmacêutica CRF/SP 51.617